O Livro Negro do Empreendedor - Fernando Trías

Título: O Livro Negro do Empreendedor
Autor: Fernando Trías de Bes
Tradução de: El Libro Negro del Emprendedor
Editora: Best Seller
Ano: 2007
Páginas: 156
ISBN/EAN: 9-788576-841487
Avaliação < / >. :
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E então finalmente você resolveu empreender.

Muito bem! Você tem uma ideia infalível,  um produto revolucionário. Quer se livrar de ter chefe, quer ficar rico,  ou simplesmente quer ter mais tempo para sua vida pessoal, já que seu trabalho te drena tanto tempo e esforço. 
Certo? Muito bom!

Já leu dezenas de livros e revistas sobre Empreendedorismo. Navegou todos os sites de dicas, assistiu vídeos na internet, foi a eventos e palestras, cita os Gurus da inovação de cór. Já contou sua ideia revolucionaria apenas para dois ou três amigos, aos quais pediu máximo sigilo, pois você está para ser o próximo Jobs, Gates ou Zuckerberg e está absolutamente certo disso. Só basta ter o capital inicial e "pedir as contas" do seu emprego chato, dar adeus ao seu chefe mala e todas aquelas coisas entendiantes de empregado, para finalmente ser "dono do próprio nariz" e sair por ai distribuindo seu cartão de visitas:

   Fulano de Tal, Sócio-Diretor 
                                               ou Presidente

Ok. "Tá bonito".

Então é a hora correta de ler esse livro.

Na contra-correnteza de tudo que você já leu, viu e ouviu sobre empreender, ele vai convencê-lo finalmente... a desistir!

O espanhol (catalão! melhor dizendo) Fernando Trías de Bes, experimentado empreendedor e hoje conhecido escritor, cansado de ver tanto volume de publicações incentivando profissionais a empreender, mas poucas que mostrem o "lado negro", as coisas que dão errado e, acima de tudo, porque dão errado, resolveu por tudo que sabe no papel e publicou seu "Livro Negro do Empreendedor" com o objetivo de desestimular os inúmeros potenciais profissionais  que tentam empreender... errado.


Trías expoe, de forma extremamente clara, seus 14 FCF - Fatores-Chaves de Fracasso - ligados ao empreender. Estamos tão acostumados com os chamados Fatores-Chaves de Sucesso, que nunca ninguém se dá conta que estudando o Sucesso apenas, não se elimina o Fracasso, e sim o contrário, estudando o Fracasso pode-se eliminá-lo ou minimizá-lo.
O autor organiza seus 14 FCF em "14 Assaltos", como em uma luta de boxe (ou UFC/MMA como está agora na moda), em que ele pretende te mandar à lona com sua ideia ou produto infalível. Por outro lado, se depois de "14 assaltos", você ainda "estiver de pé", provavelmente você seja um verdadeiro Empreendedor, ao contrário dos 90% que acham o insucesso em até 2 anos depois de se lançar.

Vamos conhecer os "14 Assaltos" então:

1. Empreender com um motivo, mas sem uma Causa - ter uma ideia, odiar o chefe, querer ficar rico, estar desempregado, ou conhecer muito um mercado, podem ser Motivos para empreender, mas não são Causas para sustentar a empreitada em médio e longo prazos. Não empreenda pela "Síndrome da Tarde de Domingo", por falta de opção. 

2. Não ter caráter empreendedor - empreender é um Modo de Vida, não uma meta ou fonte de renda, nem mesmo um Modo de Trabalhar, é muito mais que isso, é uma forma de encarar o mundo, sentindo prazer com um certo nível de incerteza. Cuidado para não virar um Falso Empreendedor só porque tem uma ideia ou vontade e registra um CNPJ na Junta Comercial. "O empreendedor se move em um mundo incerto e inseguro para os que  trabalham para ele sintam-se em um mundo certo e seguro". Se não gosta da incerteza, não é empreendedor. Busque um trabalho melhor, mas não empreender. O empreendedor ama a incerteza. Não vive sem ela.

3. Não ser um lutador - todo empreendedor já cometeu um grande erro. Justamente porque gosta da incerteza se expõe ao risco e erra algumas vezes. Mas gosta disso, porque a luta lhe dá prazer mais que o resultado em si. Normalmente são pessoas já acostumadas à lutar desde tenras idades. São sobreviventes natos. Porque lutam. São auto-motivados, tem motivação intrínseca exacerbada. Se você busca a tranquilidade e o conforto, não empreenda, busque um emprego melhor.

4. Ter sócios sem necessidade - lição 1: não tenha sócios. Lição 2: não tenha sócios. Lição 3: não tenha sócios. Se precisa mais capital, busque um banco. Se precisa de habilidades complementares à suas, contrate profissionais, empregue. Se precisa de conselhos, contrate um consultor. Se tem medo, faça algum esporte. É inerente à insegurança do ser humano, buscar "companheiros de jornada". E se a insegurança te molesta, não empreenda, muito menos ponha mais gente no barco sem necessidade. Ainda mais em fases iniciais de um negócio, muitas decisões não podem ser democráticas, e quando se tem sócios que também trabalham, o consenso fica difícil e as decisões não saem. Um dos pontos fortes das empresas pequenas é seu processo rápido de decisão. Sócios só atrasam isso. Deve haver um que mande mais que os demais. Trías, que também já foi militar, ilustra muito bem ao citar a "solidão do comando". A solidão do comando te dá agilidade, essencial no mercado de hoje.

5. Escolher sócios sem critérios relevantes - não tendo outra forma, se sócios são inevitáveis, busque selecioná-lo(s) por seus valores éticos e não habilidades. Outra vez, habilidade se contrata, ética não se compra. Se o negócio não comportar contratar mais gente, o plano está furado. Refaça o plano contando com a despesa de mão-de-obra necessária.

6. Dividir resultados desproporcionalmente ao esforço investido - se algum sócio se dedica mais ao negócio deve retirar mais que o(s) que trabalha(m) menos. Isso deve estar claro logo de saída, porque o negócio muda, depois fica complicado mudar a regra do jogo.

7. Faltar confiança e comunicação entre os sócios - junto com o assunto acima, em havendo sócios a primeira coisa a se combinar não é como a empresa começa, mas como ela deve terminar. Em caso de dar errado, quem paga o quê. A partilha do ônus (ou bônus se der certo) deve ser acertado ANTES de começar, porque depois que der errado, ninguém quer "pagar o pato". Fato. E não precisa ficar inventando moda. Já existe legislação e boas práticas de sobra nesse tema.

8. Vincular o êxito à "ideia" - "Só um infeliz confia em sua ideia feliz". Passe a ideia pelo "filtro da estupidez". Faça-se a pergunta: "não fosse essa minha ideia, eu empreenderia do mesmo jeito?" Não se fixe no QUE vender ou fabricar, mas PORQUE as pessoas vão comprá-la ou usá-la.

9. Não conhecer ou não gostar o setor que for atuar - iniciantes não ganham Prêmio Nobel. Conheça o mercado onde vai empreender. Mas não é só isso, precisa gostar dele.

10. Atuar em setores não promissores - gostar de um mercado mas sem conhecer é fracasso na certa. Ainda mais se for um setor decadente. Estude antes de entrar. Pode ser que você esteja entrando justamente no momento que deveria sair!

11. Fazer o negócio girar em função de suas necessidades materiais pessoais - o objetivo principal do negócio, por menor que seja, é manter-se sustentável no médio e longo prazos, alinhado com sua missão, causa. O negócio não foi feito para te servir. Pelo contrário, você é que decidiu abrir o negócio por acreditar em uma causa e querer defendê-la. As metas de crescimento do negócios não devem ser norteados por suas metas pessoais de enriquecimento. Aliás, é possível que fique menos bem de vida no início.

12. Negligenciar o impacto na vida pessoal - como dito acima, o empreendedor não é servido pelo negócio, mas sim o serve. Não se iluda: quem empreende trabalha MUITO mais que um empregado. Quem tem emprego, pode "desligar o modo trabalho" após às 18h ou finais-de-semana e férias. O empregador ou empreendedor trabalha até quando dorme, pois sonha com seus desafios. Os problemas não saem de férias nem ninguém decide por você.

13. Modelo de negócio que não dá lucro logo e de modo sustentável - planeje o negócio de modo que possa já dar lucros no final do primeiro ano. Do contrário, como haverão - acredite haverão - acidentes não calculados, a empreitada corre o risco de morrer antes do previsto.  

14. Não saber a hora de sair - empreendedor é empreendedor, não um administrador. Administrar é racionalizar, reestruturar, buscar eficiência, reduzir custos. Empreender é emocional, passional, é gastar mais, é desenhar mapas onde não existem. Mas eventualmente o negócio vingou, deu certo e os anos iniciais de "fundação" se foram. Hora de começar a administrar. Se o empreendedor não tiver capacidade, ou melhor vontade, gosto pela monotonia da administração, deve "passar a bola": contratar um administrador profissional e partir para fazer o que gosta: começar, empreender. Se a contratação não parecer viável, a venda do negócio é também uma alternativa, até mesmo para os demais sócios. E nessa hora cuidado para não se tomar por emoções. Capitalizado, o empreendedor pode se dedicar ao que realmente gosta: começar OUTRA coisa. Outras emoções!

Se ao final dos 14 rounds você se sente MAIS motivado a empreender, vai fundo.

Se ficou na dúvida, pare, pense um pouco mais. Dê um tempo para as ideias se acomodarem. Repasse os rounds depois de uns meses.

Se "beijou a lona" ou "jogou a toalha", não esquente. Ao menos descobriu que não será empreendendo que você vai achar sua felicidade. Precisa sim, é buscar outro trabalho e logo!

Um livro extremamente esclarecedor. 
Li por indicação de um colega, a quem sou muito grato pela dica!
Aborda pontos que (quase) nenhum autor de Empreendedorismo toca. É um divisor de águas para quem tem dúvidas se deve empreender ou não. Ou não tem certeza do que quer profissionalmente, aprendendo a não misturar sentimentos: querer empreender ou querer apenas mudar de trabalho.

E ai? "Jogou a toalha"?

Saiba mais sobre Fernando Trías em seu site.

Este livro está entre meus Recomendados sobre Empreendedorismo. Confira a lista aqui.

:)
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2 comentários:

  1. Bacana Varga, parabéns!!! Vc conseguiu passar em a nós, seus leitores, em apenas um singelo post, as principais mensagens do livro.

    Abraços!

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    1. Grato, BERTIN.
      Principalmente pela dica de ler esse livro.
      Valeu mesmo!
      Forte abraço.
      :)
      < / >.

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